Expedição Sagarana uma épica jornada que chegou a Dionísio Cerqueira.

 

"A Expedição Sagarana" foi uma grande saga, um campo aberto e indefinidamente infinito.  Lugar de trilhas, lutas, histórias e caminhos, nosso, de Prestes e de Rosa".

Assim descreve a jornada José Alexandre de Oliveira Bernardi, colega de viagem e falecido em 20-04-2003:

A matéria traz fotos impressionantes das nossas cidades gêmeas:


     Claudio Faraco descreveu em entrevista exclusiva no ano de 2013 a nossa entidade, que transcrevemos aqui em 2025 como foi a aventura pelo Brasil, juntamente com seus amigos da foto abaixo, eles que refizeram uma enorme marcha através de mais de seis meses, foram os únicos ininterruptamente e integralmente a refazer os caminhos da maior marcha militar da humanidade. 

Chegaram a Dionísio Cerqueira como era de se esperar;

Confira abaixo o emocionante relato;

      1) O que motivou a realização da expedição e por que esta revolução foi a escolhida?

Resposta: Naqueles anos, José Alexandre e eu passávamos por momentos de grande insatisfação pessoal e também com a situação política e econômica do país.

A experiência que tivemos com a Operação Tatus II, um experimento de permanência subterrânea na Bahia, quando 13 espeleólogos ficaram 21 dias isolados dentro de uma caverna, aguçou nosso espírito aventureiro e, ao término daquela operação, em julho de 1987, pensamos seriamente em realizar uma expedição que percorresse grande parte do Brasil.

    Tínhamos, portanto, o desejo e a determinação para realizá-la, mas faltava-nos um tema, um objetivo a cumprir, pois não queríamos simplesmente sair andando por aí sem um rumo definido.

    Uma vez em nossa cidade, comentamos tal decisão com o amigo Plácido Bernardi Neto, pessoa culta e voraz devorador de livros. Tanto que, diante da nossa dúvida sobre qual tema poderíamos utilizar, ele sugeriu de pronto a Coluna Prestes, porque ela tinha exatamente o roteiro que queríamos: 25 mil km (segundo a maioria dos autores) de sertão brasileiro.

 

                           Claudio o remanescente ainda vivo da expedição, ao lado de Ronaldo e Zé Alexandre, compõe a equipe dos três expedicionários.

2) Como foi o levantamento de recursos para a viagem?

 


Resposta: muito difícil porque as grandes empresas, mostrando total desconhecimento sobre esse período histórico, passaram a vincular os ideais comunistas de Luiz Carlos Prestes (pós 1927) com os objetivos da Coluna (1924-1927), acreditando que a Revolução de 1924 tivesse forte embasamento comunista.

Desta forma, pequenos empresários de nossa cidade, comovidos com nossa luta para conseguir recursos, financiaram a terça parte do orçamento previsto para tal empreendimento. O restante, conseguimos com as prefeituras da maioria das cidades por onde passamos. Para elas, nós solicitamos um lugar para dormir e comer nos três dias em que ficamos em cada cidade e, no momento de partir, que fosse completado o tanque de combustível do nosso carro-beberrão (uma Veraneio 1972, a gasolina, apelidada de Albertina). Somente assim foi possível realizar a expedição.


3)        Como foram as recepções nas cidades por onde passaram?

Resposta: A melhor possível. No Sul, Norte e Centro-Oeste, apoio total à expedição. No Nordeste, a forte crise econômica do período Sarney fez com que muitas cidades não nos ajudassem em decorrência da visível falta de recursos financeiros. Pernambuco, por exemplo, foi o único estado onde nada conseguimos, mas volto a repetir: não foi por má vontade dos prefeitos. Neste particular, apenas Floriano, no Piauí – cujo prefeito se recusou a nos receber achando que éramos comunistas –, e Nova Iorque, no Maranhão, onde chegamos num sábado e a prefeitura se encontrava fechada.

 

4) Vocês viram um Brasil diferente em relação ao dos anos 20, visto pelos revolucionários?

 


Resposta: A leitura do livro de Lourenço Moreira Lima, secretário da Coluna – “A Coluna Prestes – Marchas e Combates” -, nos forneceu um precioso painel da situação sócio-político-econômico da época da Coluna (1924-1927). O que presenciamos há 25 anos foi ainda uma pobreza chocante disseminada pelos 25 mil km percorridos pela Coluna. Se aquela miséria não tinha a mesma intensidade da narrada por Moreira Lima em seu livro, mesmo assim era ainda assustadora.

 

5) Qual a maior emoção e a maior decepção que tiveram?

Resposta: Bem, essa questão, como é muito pessoal, não posso responder pelos dois amigos, ambos, infelizmente, não mais presentes.

             Para mim, sem dúvida, foi perceber um país cuja população é maravilhosamente receptiva, alegre, festiva, que abre as portas da sua humilde residência para receber o visitante com muito orgulho e carinho.

Por outro lado, o povo brasileiro ainda é muito complacente para com os desmandos e a corrupção da classe política nacional. E isso é muito triste.


 

6) Quando chegaram a Dionísio Cerqueira, como foi a acolhida da cidade, o que acharam dela e como estava linha Separação na época?

Resposta: Na verdade, ficamos extremamente confusos, pois não sabíamos se estávamos em Barracão ou Dionísio Cerqueira (não imaginávamos que elas se misturam). Na rodovia, antes de chegarmos às cidades, não havia placas indicativas e isso aumentou muito nossa confusão. Estávamos perdidos e procuramos a primeira prefeitura que vimos. Lá também ninguém disse se era a prefeitura de Barracão ou de Dionísio Cerqueira. As coisas foram se complicando cada vez mais até que o secretário da prefeitura de Barracão nos explicou tudo. Por isso e também pela falta de informação sobre fatos da Coluna, acabamos vendo pouca coisa sobre o assunto. Posso lhe garantir, entretanto, que tanto Barracão como Dionísio Cerqueira nos receberam com muito carinho. Quanto à Separação, é uma área que deveria ser inteiramente preservada dada a importância dos fatos que aí se sucederam. 

7) O Sr. Oviedo Farias, morador de Separação até meados dos anos 90, dizia ter recebido um cantil de vidro de Prestes. Este cantil hoje está de posse de nossa associação e tem a inscrição da Expedição Sagarana. O que o amigo tem a dizer com relação a este fato? Prestes poderia ter dado este cantil a ele?

Resposta. O Sr. Oviedo certamente fez uma confusão histórica na cabeça dele. O cantil foi um presente nosso já que tínhamos centenas deles oferecidos pela Porcelana Monte Sião, uma das patrocinadoras da viagem. Prestes, possivelmente, sequer conheceu o cantil com o logotipo da Expedição.

 

8)  Por que pouco se fala sobre São Paulo que foi o estado onde surgiu a Revolução, e por que nomes como Miguel Costa que foi o comandante da coluna, praticamente é ignorado pela historiografia?


Resposta: É muito difícil responder a uma questão que envolve dezenas de historiadores nacionais e estrangeiros. Penso que a fortíssima personalidade de Prestes – embora na época com apenas 26 anos de idade -, aliada à sua fantástica estratégia militar tenha, de certa forma, “amarrado” a maioria dos historiadores que acabaram fascinados com a sua pessoa, sua luta e determinação.

 

9) Por que o governo evita a Coluna?

 Resposta: Na verdade, Cleiton, se me permite dizer, acho que a pergunta deveria estar no plural: Por que os governos evitam e evitaram a história da Coluna Prestes?

             Porque no jogo político da Ditadura Militar, comunista não entrava e nem era bem aceito. Embora já tenhamos dito que “Coluna Prestes” e “Prestes Comunista” são duas coisas distintas e de épocas também distintas, o imaginário popular misturou ambos os fatos e fixou a ideia de que a Coluna era um movimento comunista. Portanto, não é de se assustar com o fato de que até mesmo os livros didáticos desprezaram esse importante fato histórico da nação, durante décadas seguidas.

 

10) Vocês foram expedicionários e isso fica gravado para uma vida inteira: as histórias, os amigos, tudo o que passaram. É preciso muito tempo e determinação para uma empreitada como esta. Existe uma história de que Luís Carlos Prestes Filho teria também refeito a trajetória de 25 mil km, assim como uma repórter conceituada do Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, Eliane Brum, que escreveu um livro ao percorrer a marcha. Você acredita que eles realmente refizeram o percurso da Coluna integralmente como a Expedição Sagarana fez?

Resposta: A questão é polêmica, mas alguns dados podem esclarecer melhor os fatos. Li o livro de Eliane em 1995, portanto, há 18 anos. Não me lembro de detalhes, como, por exemplo, citações sobre as cidades por onde a Coluna passou ou de dados mais específicos acerca deste assunto.

Pela carta que enviamos a ela, em 22 de janeiro de 1995 (cópia anexa), é possível fazer a seguinte análise: no livro, ela diz que refez todo o trajeto em 44 dias, numa média alta de 568 km/dia, de onde se deduz que a mesma fez uso de transporte aéreo. Isto, obviamente, não descredencia o trabalho dela, mas pelo meio de traslado utilizado, somos encorajados a pensar que centenas de cidades, vilas e locais históricos da Coluna simplesmente deixaram de ser visitados.

Por outro lado, a Expedição Sagarana fez uma média diária bastante razoável de 137 quilômetros numa viagem ininterrupta de seis meses passando por todos os locais onde a Coluna esteve.   



Quanto a Prestes Filho, lembramos apenas de ele nos ter dito que a verba para a sua empreitada havia sido drasticamente reduzida pelos patrocinadores. Depois disso, não tivemos mais contato com ele.

Finalizando, há que se registrar que muita coisa mais poderia ser comentada em relação à Expedição Sagarana, desde os 12 meses de preparação e os seis de uma viagem insólita e inesquecível.

Não há como negar: a Sagarana foi a maior realização da minha vida. Ela veio no momento certo e a oportunidade, se perdida, jamais ofereceria uma segunda chance.

Foto de Claudio Faraco, para conversar diretamente com Claudio Faraco é só entrar em contato através do e-mail: jclaudiofaraco@hotmail.com

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Por *
Cleiton Weizenmann 
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